quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Neve, Livros e 24 horas

Ontem à noite recebi um email do diretor da prova Arrowhead Winter Ultra, Pierre Ostor. Ele havia aceitado minha inscrição e a do Marco Farinazzo, para no dia 01 de fevereiro de 2010 disputarmos os 217km dessa prova brutal, que acontece no clímax do inverno de Minnesota (norte dos EUA).
Um misto de alegria e apreensão tomou conta de mim. Me lembrei da enrascada que o Mário Lacerda (diretor da Brazil135) havia me colocado, indo sem preparo nenhum disputar a Arrowhead em 2007. Me lembrei das horas angustiantes no gelo, do medo da morte, medo de perder os dedos, de congelar as extremidades (todas!) do corpo, enfim.
Mas fiquei feliz pois em 2010 estarei na prova com outros corredores brasileiros. Isso é reconfortante, saber que há outros irmãos na mesma situação em que você se encontra. Dá uma espécie de alento, naquele frio todo, e um pouco de esperança de encontrar ajuda conhecida, num país distante.

E falando em outros irmãos corredores, hoje à noite o Rodolfo Lucena fará o lançamento de seu novo livro: + Corrida, na Livraria Cultura, Av. Paulista, São Paulo. Leia abaixo o convite:


E aproveitando esse multiblog, vai acontecer nos dias 28 e 29 de novembro a 2a edição das 24horas do Rio de Janeiro, prova que acontece numa parceria entre a Corpore/SP e a Marinha (Fuzileiros Navais/RJ). Quem quiser saber mais detalhes ou acompanhar os resultados pelo site, clique aqui. Só pra não frustrar os mais afoitos, as inscrições já se esgotaram.


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Corredores/Caçadores

Todos sabemos que nossos ancestrais caçavam para sobreviver. Embora nosso estilo moderno de vida tenha nos levado para longe das florestas, do mato e do campo, em algumas regiões do mundo, a cultura da caça à moda antiga ainda permanece.

Veja o incrível video sobre a história da caça e do caçador. Um homem da tribo San, do Deserto de Kalahari na África, nos leva há milênios em nossa história, mostrando como a persistência e a paciência fizeram o homem sobreviver nos lugares mais inóspitos da Terra.

E da próxima vez que você ficar com preguiça de fazer aquele seu treino longo, lembre-se desse caçador, que não corre por prazer, medalhas, endorfina ou por simples apelo social.

http://www.youtube.com/watch?v=fUpo_mA5RP8

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Treinao 24 horas em Goiania

Dia 19 de outubro fiz um TREINÃO de 24 horas, correndo num circuito de 1km na Alameda Ricardo Paranhos, em Goiânia (minha cidade). Foi a 2a vez que realizei um treino assim, com a intenção de aproximar a população em geral da ultramaratona, uma vez que a maioria das pessoas só tem contato com o que escrevo, filmo ou fotografo. Decidi também com esse treino, convidar amigos, amantes da corrida e curiosos para verem de perto o que acontece com o corpo, quando levado perto dos seus limites, e permanece por lá durante horas.

Bom, primeiramente foi uma experiência incrível. Correr por 24 horas é sempre um privilégio, ainda mais quando temos uma equipe envolvida com seu resultado, preocupada com sua saúde e totalmente focada na sua integridade física. Só tenho um agradecimento profundo a todos os colaboradores que estiveram no TREINÃO. A equipe de nutricionistas da Dra Aricia Motta (a melhor nutricionista esportiva do Brasil!!!), o preparador físico Romao (Moedor de Carne), a equipe da Academia Atrio (A+ BodyTech!), minha mulher Bianca Badan (que deixou a Laninha, o Luigi e o Luca com minha sogra e foi ajudar durante à noite) e meu irmão Rubens Cerqueira, que ajudou na organização-de-última-hora do evento.

Com toda essa equipe auxiliando, minha obrigação era dar 100% de mim e empurrar minhas pernas durante todo o tempo, percorrendo 160km em 23h35min.

Pra quem gosta dos detalhes, a prova começou às 10h42min de sábado. Comecei os primeiros quilometros fazendos "loops" de 6min/km. Duas horas após o início da prova, o termômetro apitava 41ºC na sombra. Com a umidade por volta dos 80%, eu esperava uma chuva no início da tarde. Ela não veio e com menos de 30km eu já sofria com cãibras nos quadríceps. A Dra Arícia e sua equipe aumentou minha ingestão de sal e potássio e consegui contornar as dores, mas aumentei um pouco meus tempos (7min/km).

No início da noite a chuva veio com tudo. Não dava pra enxergar 2m à minha frente. Mas tive a companhia de 2 amigos, durante quase 2 horas na tempestade. Confesso que fiquei um pouco preocupado com a possibilidade de ter bolhas, mas me precavi usando o BlueSteel, um produto que descobri com amigos corredores da Africa do Sul.

Quando a chuva acabou, quase 4 horas depois, eu já estava sentindo o cansaço e muito sono. Tomei uma cápsula de RocketDyn que possui um pouco de cafeína e logo me senti melhor.

Segui a madrugada com um amigo (Vanderval) que estava comigo no treino desde às 15h00. Andamos a madrugada toda e meu tempo aumentou para 9min/km.

Por volta das 05h00 da manhã senti que era hora de apertar o passo. Voltei a correr e tive o apoio de vários amigos que acordaram de madrugada pra correr comigo (valeu pessoal!!!).

Quando eu havia percorrido 137km senti que daria pra tentar fazer 100 milhas antes das 24hs. Faltavam menos de 3h30 pro final do TREINÃO. Fiz uma massagem rápida e saí com a intenção de só parar quando o desafio terminasse, voltando a fazer 7min/km praticamente até o km 160.

Com o apoio dos amigos, das pessoas que assistiam a prova e dos que estavam correndo comigo, consegui estabelecer minha nova marca (espero que não dure muito tempo!) de 160km.

Foi um ótimo treino para as 24hs do Rio em novembro, bem como uma preparação mental pra Arrowhead 2010. Mal me recuperei do TREINÃO e já começou novamente o ritmo alucinante dos treinos. Mas cada pontada de dor que sinto, cada hora exaustiva de treinamento, cada planilha interminável eu me lembro das 24hs que passei pelo sol, chuva, cansaço e muita camaradagem por parte da comunidade de corredores e amigos. A eles meu muito obrigado. Espero que a determinação e força de vontade que tivemos no TREINÃO sirvam de motivação para as pessoas saírem de sua "zona de conforto" e se aventurarem por quaisquer caminhos que os desafiem.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Brazil 135 Ultra

No dia 23 de janeiro último, participei da maior ultramaratona do Brazil, um evento de importância internacional que atraiu quase 80 atletas, representando 8 países.
Contarei minha experiência da prova de 2009 em alguns dias, mas decidi publicar este relato emocionante do ultra-companheiro Dr Seabra.

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Prezados amigos.

Só hoje (5 dias após) tenho condições emocionais para relatar, sumariamente, a conquista da minha equipe na BR 135.

Terminamos a prova dentro do tempo (60 h) em 56 horas e 50 minutos, sendo o número 34 na linha de chegada.

A corrida começou há cerca de dois anos, quando resolvi participar das primeiras ultramaratonas de 24 horas. Foram treinos constantes e bastantes intensos, culminando com uma média de 200 km por semana.

Além disto fizemos um reconhecimento no local de grande valia, onde pude contar com o apoio de meu filho Bruno.

Posteriormente, partimos para o planejamento da prova e sua logística.

A Rosi, minha mulher (sem sorte), se incorporou ao projeto e tivemos a felicidade de contar com a concordância dos amigos Patrícia e Raul para se fazerem presentes como “pacers” nesta jornada vitoriosa. Este casal é da minha família, apesar de não estarem no rol de herdeiros da minha "fortuna" material.

Há cerca de um mês do evento monstruoso me aparece um esporão logo após as 24 horas do Rio de Janeiro. Fizemos de tudo, mas a solução teve que ser radical: uma infiltração de corticóide na sola do pé.

Parecia que já poderia apurar os treinos, quando, faltando apenas 13 dias para o início da corrida, uma de minhas éguas, que de tão mansa tem o nome de Maria Mole, acerta um coice na minha coxa direita.

Passado o desespero de achar que não poderia competir, volto aos treinos apenas nos últimos seis dias.

Estávamos prontos. Tensos, com alguns receios, mas certos de que nada nos faria parar pelo caminho e que a velocidade prevista para cada trecho poderia ser cumprida.

Na hora da largada, ao início do Hino Nacional, me vejo cercado por vários atletas-heróis e por minha família. Meus filhos Bruno, Kátia (vinda de Natal) e Bárbara, meu neto Marcelinho, minha dedicada esposa e os incansáveis amigos/irmãos Raul e Patrícia. Descambei a chorar que pensei que ia desmaiar sem fazer um só metro de prova.

Finalmente o momento da largada. Foram 217 km de subidas e descidas gigantescas, picos com vistas lindíssimas, rios, pedras rolando perigosamente abaixo de nossos pés, mato, deliciosos cheiros de mato e de bosta fresca. Calor, vento, frio, chuva, gritos de alegria, gemidos de dor, muito macarrão de todos os molhos, águas, suplementos até não mais aguentar, noites de lua nova, sem um raio, a nos ajudar a enfrentar as trevas, o barulho ensurdecedor do silêncio, a alegria de encontrar um parceiro, os gritos de incentivo das outras equipes, a constante solidariedade.

Uma massagem aqui, um alongamento ali, mais uma subida dos infernos, um mineirinho a dizer que a chegada está uns três quilômetros à frente, o seguinte já aumenta para sete e, horas depois, um outro confirma os sete anteriores. Não vamos chegar nunca. Mais uma subida e nada de ver a cidade. Roubaram a cidade, não pode ser tão longe.... De repente, quando todas as nossas forças já se esvaíram, no alto da quadragésima última montanha, surge algo que parece o Paraíso. É Paraisópolis, a agradável cidade que nos acolhe com seu cheiro de pão de queijo e de broa de milho.

Cruzamos a linha de chegada e o chão sai de nossos pés. Flutuamos a procurar nossos amigos, filhos, a mulher franzina que nos arrastara até ali, nossos adversários (?????), não!!!, nunca!!!!, nossos irmãos de glória.

Vemos os incansáveis voluntários e finalmente o casal que nos proporcionara esta ventura, os simpaticíssimos Mário Lacerda e sua Eliane. Estes, meus amigos, são os verdadeiros heróis. Incansáveis, competentes, incansáveis e competentes, incansáveis e várias vezes competentes.

Dor? Nenhuma. Sentimento apenas de gratidão a tudo e a todos que, numa conjugação de fatores que nunca mais irão se repetir, fizeram com que esta equipe também merecesse a honra de levar para a pequena Quatro Barras a medalha de Prata da prova mais difícil do mundo, a camisa de "Finisher" que irá para uma moldura sem jamais ser usada e um diploma que espero manter em meu escritório, encabeçando meu troféus de hipismo e automobilismo, esportes que pratiquei antes de ficar velho.

Assim, amigos, relato, sumarissimamente, o que foram estes dias maravilhosos.

As fotos que estou editando irão lhes dar uma visão de um atleta nas primeiras 48 horas e de um mulambo determinado a cruzar a chegada nas 12 últimas. Sofremos bastante, mas fiz questão de reunir filhos e netos, em meus 60 anos para lhes dizer, correndo pelas montanhas, que só tem valor o que se conquista com sangue, suor e lágrimas (os dois derradeiros derramados em profusão no Caminho da Fé) e que nós somos aquilo que queremos ser.

Lamento a ausência de meu filho Marcelão e da minha linda e meiga neta Mariana, que não puderam vir, mas já combinamos que na minha comemoração dos 120 anos, nas montanhas da Mantiqueira, eles não faltarão.

Não posso deixar de me referir a algumas pessoas em especial e vou chamá-los apenas amigos: Fernando da Naffar - um gentleman, Mônica Otero - a musa da BR 135, Lacerda - o incansável fisioterapeuta e guru da minha idolatrada Jaqueline Terto e um menina fisioterapeuta que acompanhava o grande atleta Gentil e que me fez chegar correndo em Paraisópolis. Esta pessoa iluminada me ajudou tanto e de forma tão espontânea, que sequer nos deu tempo de saber seu nome (sem dúvida saberei e lhe renderei muitas homenagens).

Por enquanto é só.

Agradeço a todos pela corrente positiva e volto a afirmar que todo o mérito desta conquista se deve unicamente à minha equipe: Bruno, Raul, Rosi e Patrícia e ao “doping” de saber que iria encontrar minhas filhas e meu neto nos últimos quilômetros da estafante jornada.

Um ultrabaraço a todos.

Seabra.



domingo, 18 de janeiro de 2009

Utterli, tudo em um

Acabo de me conectar ao utterli, uma plataforma multiblog, com audio, video e texto, que pode tambem ser acessada via celular. Tudo isso vira uma enorme vantagem quando se estah na rua e acontece algo interessante. Sem nenhum computador por perto, somente com um celular na mao, agora podemos escrever, postar fotos e videos.

Se voce ainda nao conhece, acesse www.utterli.com

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Chegou 2009 / 2009, at last!

Fim de ano é muito difícil pra mim, como atleta. Principalmente por causa das festividades e
comilanças das celebrações do Natal e Ano Novo. Pra completar, dois dos meus três filhos fazem aniverário no final de ano e aí, já viu ne? Brigadeiro, bolo, enfim, uma festa por dezembro todo.
Mas nem só de farra se vive! E já retomei os treinos finais para a Brazil135, a prova mais pedreira que se tem notícia dentro de território brasileiro. São 217km (ou 135 milhas) cruzando as montanhas da Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais.
Como se não bastasse a distância, a chuva torrencial por causa da época do ano, lama e travessia de rios que inundam de repente, o corredor tem 60 horas pra finalizar a façanha.
Em 2007 foram 11 os guerreiros a finalizar a Brazil135. Em 2008 21. Este ano 63 corredores de 9 países viverão uma fantástica aventura, sobre-humana. Quantos terminarão? Na mais otimista previsão, 40. Na mais pessimista, 20. Dia 23 de janeiro começa a Brazil135, a primeira ultramaratona do ano e também a mais aguardada.

It´s very hard being an athlete at the end of the year, specially for me. Not only because of the Xmas and the Celebrations, but 2 of my 3 kids celebrate birthdays too. Sweets and cakes makes my december a full party. But i cant only celebrate! I already started the Brazil135´s training, the most grueling brazilian ultramarathon. It´s 135 miles crossing the Serra da Mantiqueira´s mountains, southeast of Brazil.
As if the distance was not enough, the pouring rain, mud and flash-floods, the athlete have 60 hours to complete the race. In 2007 only 11 warriors finished. In 2008 21. This year, 63 runners from 9 countries will join an amazing-super-human-adventure. How many will finish? In an optimistic vision, 40. Perhaps 20 for the skepticals. January 23rd will begin the Brazil135, the first and most waited ultramarathon of the year.