quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E você achava que era só correr?

Eu comecei a correr em 2002. Na época me pareceu a única opção para um cara com 100kg emagrecer, se ele quisesse se tornar um ultramaratonista. Em 2003 participei da minha primeira maratona, a Internacional de Curitiba. Terminei a maratona com cãimbras nos dois quadríceps, praticamente arrastando e com o rosto encharcado de lágrimas. Foi emocionante. Mas eu queria mais!


Em 2005 fiz minha primeira prova de 24 horas, novamente em Curitiba. Foi um mundo totalmente novo. Eu nunca havia corrido tanto. Me tornei ultramaratonista naquelas 24 horas. Fiquei uns dias sem andar normalmente, por causa das 3 unhas perdidas pelo caminho e das bolhas do tamanho de bolas de tênis nos meus pés. Mas continuei insistindo. Depois vieram as 6 horas em São Caetano, logo em seguida a Badwater, ajudando o Manoel Mendes, e ainda a Brazil 135, organizando junto com o Mário Lacerda o que veio a se tornar a maior ultramaratona da América Latina. Depois veio a Arrowhead, um desafio impensável para quem vive do lado de cá do equador; veio a segunda Badwater, cobrindo a corrida pro Lance A+ e vendo o Valmir quebrar o recorde da prova. Em seguida foi a minha vez de participar da Brazil 135, me arrastando montanha acima com o Jason, preparador físico americano que veio experimentar o gosto de correr 58 horas embaixo de chuva, atravessando rios alagados, com lama até as canelas. 


Ainda em 2008 conheci as agruras da Sahara Race, disputada no Egito, ao longo de 250km. Fiz até um treino de 24 horas na minha cidade, pra tentar me preparar melhor pro desconhecido. Finalmente em 2009 voltei ao Sahara e consegui completar a prova razoavelmente melhor do que no ano anterior, mas não sem antes fazer um novo treino de 24 horas e de participar novamente da Brazil 135.


Em 2010 minha história com a ultramaratona tomou outro rumo. No começo do ano, em pleno inverno nos EUA, participei novamente da Arrowhead. Ganhei até uma condecoração da cidade de International Falls, de onde começa a prova, por aparecer por lá pra correr nessa aventura de congelar os ossos, literalmente. No final de fevereiro, logo após voltar da prova gelada, participei ainda de um desafio de 50 km em esteira, na O2 Wellness, academia da minha cidade.


Depois disso, NADA. 


Nada mais de treino, nada mais de desafios, nada mais de endorfina, dores nas pernas, longas horas embaixo do sol causticante de Goiânia. NADA! 


Durante 8 longos meses, somente trabalho, reuniões, viagens, mais trabalho, mais reuniões e mais viagens. A rotina pesada de um pequeno empresário brasileiro, com uma vontade enorme de inovar, de fazer diferente, me levaram a um completo desligamento das ultras. Eu achei que nunca mais iria correr novamente. Não por causa de algum problema físico, mas por simples falta de vontade. Quando algumas pessoas me perguntavam se eu gostava de correr, eu simplesmente dizia que não. Eu não gostava mais de correr. Seria isso? Afinal eu havia esgotado em mim toda vontade de permanecer horas em cima das minhas pernas, nesse eterno passo, hora subindo, hora descendo, nessa cadência lenta daqueles que correm sem relógio, sem contar os kilômetros, apenas com uma mochila nas costas, litros de isotônico e uma paixão desenfreada pela distância?


A resposta, fica pra outro post...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Farinazzo finished Arrowhead 135 and became the champion of BAD135

Marco Farinazzo arrived safe in Fortune's Casino Bay, after 57h48min. His struggling with the elements will only leave permanent marks in his character, not in his body. He told me this was THE toughest race of ever and he never suffered in a race like he suffered in Arrowhead. Its not good for anybody run at -20F (-30C) but for brazilians is specially brutal. I ran the last 5k with him and TJ (Samoan runner) and they told me their cold stories about the 2nd night and the afraid to die or lose some parts of their bodies. TJ actually was hospitalized with frostbite but its ok now.

I hoped to do best than I did in 2007 (my 1st attempt) and I did. Ran almost 70km in cold weather is a race of itself. I am glad to come back home in one piece and make my plans for the next year. Hope to see everybody here again for the Arrowhead 2011. It was a great experience.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Douglas Girling South Africa finished Arrowhead 135

Doug is a really good friend which I was introduced to in Sahara Race 2008. He and his brother Malcolm, and friends (Travis, Mark and James) made the Sahara Race a funny race to do (I had tons of good memories of it - remember the story about "who crap in Dean's sleeping bag?"). Anyway, Doug just finished the Arrowhead in 7th, with a time of 52h33min.
Congratulations to Doug in his 1st attempt and 1st finishing.

More runners still waiting at the Fortune Bay Casino (Ray Sanchez, TJ and Farinazzo).

Primeiro competidor da BAD135 termina a Arrowhead Ultra.

Iso Yucra, do Peru, terminou a Arrowhead 2010 com o tempo de 48h46min, melhorando em quase 2 horas seu tempo do ano passado. Iso foi o 5o corredor a terminar a prova. Durante a madrugada, Eric Johnson chegou ao Fortune Bay Casino, sendo o 2o corredor a terminar a prova. John Storkamp e Mat Long terminaram a prova juntos, (3o e 4o lugar), aas 06h39min.
Iso vai continuar perseguindo o campeonato BAD135 e deve em breve iniciar seus treinos para Badwater.
A BAD135 eh composta por 3 provas de 135 milhas, sendo a primeira em Janeiro (Brazil135) a segunda em Fevereiro (Arrowhead) e a terceira em Julho (Badwater).

Zach Gingerich quebra o Recorde da Arrowhead Winter Ultra / Zach Gingerich breaks the record of Arrowhead Winter Ultra

Zach Gingerich (3o lugar na Badwater 2009) quebra o recorde da Arrowhead com o tempo de 37h59min. Ele chegou ainda de bom humor no Fortune Bay Casino (Tower/MN) onde fica a linha de chegada e concedeu uma pequena entrevista. Segundo Zach, ele soh treinou pra essa prova na esteira, pois detesta o frio. Disse ainda que foi extremamente cansativo o percurso, tendo que lidar com a solidao durante todo o tempo. Quando o convidei pra participar da Brazil135, finalizando assim o circulo das corridas de 135 milhas ele me disse: " soh existe uma coisa que odeio mais do que o frio: AS MONTANHAS!!!" Parabens ao Zach, ele sem duvida nenhuma provou novamente que estah na lista dos melhores corredores do mundo!

Zach Gingerich (3rd place at Badwater 2009) breaks the record of Arrowhead with a 37h59min finish tme. He was still in a good mood when he got in Fortune Bay's Casino (the finish line). According Zach, he only trained on the treadmill for this race and hates the cold weather. He told me that the course was extremely boring and loneliness, dealing all the time with the solitude. When i invited him to participate of Brazil135, ending up a Bad135 circle he told me: "the only thing i hate the most than cold weather is THE HILLS!!!" Congratulations to Zach, he is no doubt one of the best runners of the world!!!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os 70km mais dificeis da minha vida!!!!

Para todos aqueles que correm ultras, existem corridas epicas. Umas por causa da beleza, da altitude, da desolacao, ou simplesmente por que eh muito bom corre-las. A Brazil135 por exemplo, eh uma dessas corridas que voce quer estar lah, nem que seja soh para encontrar velhos amigos.
A Arrowhead eh uma corrida epica em muitos aspectos. Desde que cheguei aqui nos EUA, na ultima quarta-feira, tenho tentado aprender e memorizar o maximo de detalhes sobre como correr em condicoes tao adversas. Sao pequenos detalhes, que podem salvar sua vida: como nao deixar congelar sua agua, o que fazer quando voce para por alguns minutos com temperaturas que podem facilmente chegar a -30oC, como aquecer suas maos e pes, o que comer, o que congela, o que nao congela, onde parar, enfim, pequenos detalhes que fazem todas a diferenca.
Convidei um amigo muito querido pra correr a Arrowhead. Seu nome eh Douglas Girling. Doug eh da Africa do Sul, mas mora nos EUA ha algum tempo. Ano passado Doug completou a 6633, uma corrida de 120 milhas no Artico. Eu achei que talvez a Arrowhead fosse mais uma boa corrida pro Doug praticar suas novas habilidades como ultramaratonista (sua primeira ultra foi a Sahara Race 2008, onde nos conhecemos).
O comeco da Arrowhead pra mim foi um fiasco. Antes da prova comecar, meu treno quebrou e tive que conserta-lo pra tentar sair antes das 7h30 (a corrida comecara aas 7h00). Fiquei um bom tempo correndo sozinho, sem ver absolutamente ninguem a minha frente. Esse tipo de corrida eh extremamente solitaria. O tempo todo eh praticamente voce e a natureza selvagem. Fiquei bem surpreso quando cheguei ao primeiro abrigo (10 milhas) em aproximadamente 3 horas. Mas estava muito frio (-35oC), conforme fui avisado por um dos oficiais da prova, que estava lah pra checar se todo mundo estava bem.
Apesar de estar muito dificil eu tentava andar o mais rapido possivel, e correr um pouco quando sentia muito frio. Soh descobri que eu nao era o ultimo corredor apos o km 20. TJ, um corredor da Samoa me alcancou e ficamos conversando um pouco. Ele me disse que era triatleta e escalador de montanhas (completara os 4 Summits: Kilimanjaro, Aconcagua e outros 2 que nao me lembro). Embora nunca tivesse tentado uma corrida maior do que 50 milhas, estava correndo a Arrowhead como sua primeira ultra-experiencia.
Aaquela altura nao tinhamos a menor ideia de como os corredores estavam se saindo, pois na Arrowhead voce nao tem nenhum acesso aas informacoes da prova. Os celulares nao pegam, nao ha postos de radio, enfim, a unica forma de obtermos alguma informacao eh atraves dos snowmobilers, que vem e vao o tempo todo, tentando "trackear" o maior numero de atletas possivel.
Na milha 20 tudo comecou a mudar. Eu percebi que estava gastando uma quantidade enorme de energia pra manter minha velocidade. Eu estava usando "track poles" que sao uma especie de varetas de apoio, muito comum em corridas de aventura, mas que eu nunca havia usado antes. Alem disso, estava carregando uma mochila com 3 litros de agua no camelback e meu musculo do trapezio comecava a dar sinais de exaustao.
Antes da Arrowhead eu havia feito um treino de 24horas, (na verdade 23h35min) onde completei 100 milhas e me sentia confiante do ponto de vista da energia necessaria para o endurance. Mas eu nao estava preparado pra fazer tanta forca nas pernas e nos bracos com fiz. Soh posso dizer que correr/andar na neve gasta provavelmente 3 ou 4 vezes mais energia do que numa corrida normal. Mesmo com minha previa experiencia com severa privacao de sono (50 horas ou mais) com 11 horas de prova eu estava praticamente dormindo na estrada e nao eh nada engracado dormir numa trilha de snowmobile, ouvindo os lobos uivarem na noite, logo atras de voce.
Eu estava sem energia, sem stamina, sem nenhuma vontade de continuar caminhando, mas aqui voce nao tem opcao. Continua caminhando, lutando a cada subida, a cada curva e rezando pro proximo checkpoint estar proximo. As ultimas milhas antes do 1o checkpoint foram brutais. A noite chega cedo aqui (5 da tarde) e fica ainda mais dificil e mais frio quando anoitece.
Pra minha sorte havia outro corredor comigo nessas ultimas milhas (Sean) e viemos conversando um pouco. Sem sua ajuda eu provavelmente nao teria encontrado a entrada correta pro 1o checkpoint e teria me perdido noite adentro.
Quando cheguei no primeiro checkpoint encontrei o Marco Farinazzo que chegara umas 2 horas antes de mim. Ele estava me contando como havia sido dificil pra ele fazer a prova ateh ali, e que essa prova era muito mais uma questao de forca nas pernas e bracos do que de endurance (resistencia). Ele havia comido alguma coisa e nao sabia ao certo se iria continuar ou nao. Eu tambem nao sabia se iria continuar. Tomei duas sopas quentes, comi um cachorro quente e um sanduiche, mas logo comecei a tremer de frio. Minha roupa encharcada havia ido pra secadora e eu estava soh com as roupas de baixo. Um dos oficiais da prova me ajudou a lidar com a hipotermia. Eh bem engracado o quanto de energia a gente gasta quando o corpo, hipotermo, tenta se aquecer. Logo eu estava mais exausto do que antes. Nao tinha forcas nem para reclamar de nada. Lembro do Farinazzo acenando pra mim e me desejando boa sorte. Eu dei um abraco nele e ele partiu por volta das 21h00. Eu sabia que ele iria sofrer muito pois a noite eh muito dura e se voce parar pra descansar, tudo pode piorar. Sempre tento ser muito consciente nas minhas decisoes. E sei que parte do ultra-esporte eh voce ir alem dos limites, estabelecer novas fronteiras no desconhecido. Mas eu tambem sei quando eh hora de parar. Sem experiencia previa com o frio e a neve, sem saber como lidar com algum problema inesperado que poderia me atingir no meio do caminho e com mais 55km pela frente ateh o segundo checkpoint eu decidi que minha corrida havia terminado ali.
Eu agradeco muito aos meus patrocinadores (Subway, Capital Steakhouse, Drogaria Santa Marta, Quatro Estacoes e aos amigos, que preferem permanecer anonimos) por terem confiado em mim, mas desistindo ali eu teria certeza que poderia tentar novamente numa proxima oportunidade.
Depois de uma boa noite de sono estou de volta  aa Arrowhead pra checar como estao os outros corredores. E ateh agora o que posso dizer eh que o Jarom fez o maximo, mas nao conseguiu terminar a prova. Um snowmobiler o resgatou aas 2h00 da manha. o Raymond Sanchez deixou o segundo checkpoint aas 11h00 (aprox.) e parecia bem confiante. Iso havia saido bem cedo do 2o checkpoint tambem.
Encontrei o Farinazzo em Melgoerges e ele estava muito cansado. Dormiu por algumas horas e deixou o 2o checkpoint aas 17h23. Nao eh comum alguem finalizar a prova deixando o checkpoint tao tarde, mas vindo do Farinazzo tudo eh possivel. Ele tem uma resistencia incrivel e sabe lidar com as adversidades muito bem.
Sao 19h11min, estou na linha de chegada tentando obter mais informacoes dos corredores. Quem estah liderando a prova ateh agora eh o Zach Gingerich (3o lugar na Badwater 2009). Zach deu muito trabalho para o Farinazzo na ultima Badwater, mas parece que esta eh a prova ideal pra ele ter seu momento de gloria.
Vamos aguardar, pois essa eh uma das provas mais dificeis do mundo e certamente, pra mim, a mais dificil de toda minha vida.