quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Primeiro competidor da BAD135 termina a Arrowhead Ultra.

Iso Yucra, do Peru, terminou a Arrowhead 2010 com o tempo de 48h46min, melhorando em quase 2 horas seu tempo do ano passado. Iso foi o 5o corredor a terminar a prova. Durante a madrugada, Eric Johnson chegou ao Fortune Bay Casino, sendo o 2o corredor a terminar a prova. John Storkamp e Mat Long terminaram a prova juntos, (3o e 4o lugar), aas 06h39min.
Iso vai continuar perseguindo o campeonato BAD135 e deve em breve iniciar seus treinos para Badwater.
A BAD135 eh composta por 3 provas de 135 milhas, sendo a primeira em Janeiro (Brazil135) a segunda em Fevereiro (Arrowhead) e a terceira em Julho (Badwater).

Zach Gingerich quebra o Recorde da Arrowhead Winter Ultra / Zach Gingerich breaks the record of Arrowhead Winter Ultra

Zach Gingerich (3o lugar na Badwater 2009) quebra o recorde da Arrowhead com o tempo de 37h59min. Ele chegou ainda de bom humor no Fortune Bay Casino (Tower/MN) onde fica a linha de chegada e concedeu uma pequena entrevista. Segundo Zach, ele soh treinou pra essa prova na esteira, pois detesta o frio. Disse ainda que foi extremamente cansativo o percurso, tendo que lidar com a solidao durante todo o tempo. Quando o convidei pra participar da Brazil135, finalizando assim o circulo das corridas de 135 milhas ele me disse: " soh existe uma coisa que odeio mais do que o frio: AS MONTANHAS!!!" Parabens ao Zach, ele sem duvida nenhuma provou novamente que estah na lista dos melhores corredores do mundo!

Zach Gingerich (3rd place at Badwater 2009) breaks the record of Arrowhead with a 37h59min finish tme. He was still in a good mood when he got in Fortune Bay's Casino (the finish line). According Zach, he only trained on the treadmill for this race and hates the cold weather. He told me that the course was extremely boring and loneliness, dealing all the time with the solitude. When i invited him to participate of Brazil135, ending up a Bad135 circle he told me: "the only thing i hate the most than cold weather is THE HILLS!!!" Congratulations to Zach, he is no doubt one of the best runners of the world!!!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os 70km mais dificeis da minha vida!!!!

Para todos aqueles que correm ultras, existem corridas epicas. Umas por causa da beleza, da altitude, da desolacao, ou simplesmente por que eh muito bom corre-las. A Brazil135 por exemplo, eh uma dessas corridas que voce quer estar lah, nem que seja soh para encontrar velhos amigos.
A Arrowhead eh uma corrida epica em muitos aspectos. Desde que cheguei aqui nos EUA, na ultima quarta-feira, tenho tentado aprender e memorizar o maximo de detalhes sobre como correr em condicoes tao adversas. Sao pequenos detalhes, que podem salvar sua vida: como nao deixar congelar sua agua, o que fazer quando voce para por alguns minutos com temperaturas que podem facilmente chegar a -30oC, como aquecer suas maos e pes, o que comer, o que congela, o que nao congela, onde parar, enfim, pequenos detalhes que fazem todas a diferenca.
Convidei um amigo muito querido pra correr a Arrowhead. Seu nome eh Douglas Girling. Doug eh da Africa do Sul, mas mora nos EUA ha algum tempo. Ano passado Doug completou a 6633, uma corrida de 120 milhas no Artico. Eu achei que talvez a Arrowhead fosse mais uma boa corrida pro Doug praticar suas novas habilidades como ultramaratonista (sua primeira ultra foi a Sahara Race 2008, onde nos conhecemos).
O comeco da Arrowhead pra mim foi um fiasco. Antes da prova comecar, meu treno quebrou e tive que conserta-lo pra tentar sair antes das 7h30 (a corrida comecara aas 7h00). Fiquei um bom tempo correndo sozinho, sem ver absolutamente ninguem a minha frente. Esse tipo de corrida eh extremamente solitaria. O tempo todo eh praticamente voce e a natureza selvagem. Fiquei bem surpreso quando cheguei ao primeiro abrigo (10 milhas) em aproximadamente 3 horas. Mas estava muito frio (-35oC), conforme fui avisado por um dos oficiais da prova, que estava lah pra checar se todo mundo estava bem.
Apesar de estar muito dificil eu tentava andar o mais rapido possivel, e correr um pouco quando sentia muito frio. Soh descobri que eu nao era o ultimo corredor apos o km 20. TJ, um corredor da Samoa me alcancou e ficamos conversando um pouco. Ele me disse que era triatleta e escalador de montanhas (completara os 4 Summits: Kilimanjaro, Aconcagua e outros 2 que nao me lembro). Embora nunca tivesse tentado uma corrida maior do que 50 milhas, estava correndo a Arrowhead como sua primeira ultra-experiencia.
Aaquela altura nao tinhamos a menor ideia de como os corredores estavam se saindo, pois na Arrowhead voce nao tem nenhum acesso aas informacoes da prova. Os celulares nao pegam, nao ha postos de radio, enfim, a unica forma de obtermos alguma informacao eh atraves dos snowmobilers, que vem e vao o tempo todo, tentando "trackear" o maior numero de atletas possivel.
Na milha 20 tudo comecou a mudar. Eu percebi que estava gastando uma quantidade enorme de energia pra manter minha velocidade. Eu estava usando "track poles" que sao uma especie de varetas de apoio, muito comum em corridas de aventura, mas que eu nunca havia usado antes. Alem disso, estava carregando uma mochila com 3 litros de agua no camelback e meu musculo do trapezio comecava a dar sinais de exaustao.
Antes da Arrowhead eu havia feito um treino de 24horas, (na verdade 23h35min) onde completei 100 milhas e me sentia confiante do ponto de vista da energia necessaria para o endurance. Mas eu nao estava preparado pra fazer tanta forca nas pernas e nos bracos com fiz. Soh posso dizer que correr/andar na neve gasta provavelmente 3 ou 4 vezes mais energia do que numa corrida normal. Mesmo com minha previa experiencia com severa privacao de sono (50 horas ou mais) com 11 horas de prova eu estava praticamente dormindo na estrada e nao eh nada engracado dormir numa trilha de snowmobile, ouvindo os lobos uivarem na noite, logo atras de voce.
Eu estava sem energia, sem stamina, sem nenhuma vontade de continuar caminhando, mas aqui voce nao tem opcao. Continua caminhando, lutando a cada subida, a cada curva e rezando pro proximo checkpoint estar proximo. As ultimas milhas antes do 1o checkpoint foram brutais. A noite chega cedo aqui (5 da tarde) e fica ainda mais dificil e mais frio quando anoitece.
Pra minha sorte havia outro corredor comigo nessas ultimas milhas (Sean) e viemos conversando um pouco. Sem sua ajuda eu provavelmente nao teria encontrado a entrada correta pro 1o checkpoint e teria me perdido noite adentro.
Quando cheguei no primeiro checkpoint encontrei o Marco Farinazzo que chegara umas 2 horas antes de mim. Ele estava me contando como havia sido dificil pra ele fazer a prova ateh ali, e que essa prova era muito mais uma questao de forca nas pernas e bracos do que de endurance (resistencia). Ele havia comido alguma coisa e nao sabia ao certo se iria continuar ou nao. Eu tambem nao sabia se iria continuar. Tomei duas sopas quentes, comi um cachorro quente e um sanduiche, mas logo comecei a tremer de frio. Minha roupa encharcada havia ido pra secadora e eu estava soh com as roupas de baixo. Um dos oficiais da prova me ajudou a lidar com a hipotermia. Eh bem engracado o quanto de energia a gente gasta quando o corpo, hipotermo, tenta se aquecer. Logo eu estava mais exausto do que antes. Nao tinha forcas nem para reclamar de nada. Lembro do Farinazzo acenando pra mim e me desejando boa sorte. Eu dei um abraco nele e ele partiu por volta das 21h00. Eu sabia que ele iria sofrer muito pois a noite eh muito dura e se voce parar pra descansar, tudo pode piorar. Sempre tento ser muito consciente nas minhas decisoes. E sei que parte do ultra-esporte eh voce ir alem dos limites, estabelecer novas fronteiras no desconhecido. Mas eu tambem sei quando eh hora de parar. Sem experiencia previa com o frio e a neve, sem saber como lidar com algum problema inesperado que poderia me atingir no meio do caminho e com mais 55km pela frente ateh o segundo checkpoint eu decidi que minha corrida havia terminado ali.
Eu agradeco muito aos meus patrocinadores (Subway, Capital Steakhouse, Drogaria Santa Marta, Quatro Estacoes e aos amigos, que preferem permanecer anonimos) por terem confiado em mim, mas desistindo ali eu teria certeza que poderia tentar novamente numa proxima oportunidade.
Depois de uma boa noite de sono estou de volta  aa Arrowhead pra checar como estao os outros corredores. E ateh agora o que posso dizer eh que o Jarom fez o maximo, mas nao conseguiu terminar a prova. Um snowmobiler o resgatou aas 2h00 da manha. o Raymond Sanchez deixou o segundo checkpoint aas 11h00 (aprox.) e parecia bem confiante. Iso havia saido bem cedo do 2o checkpoint tambem.
Encontrei o Farinazzo em Melgoerges e ele estava muito cansado. Dormiu por algumas horas e deixou o 2o checkpoint aas 17h23. Nao eh comum alguem finalizar a prova deixando o checkpoint tao tarde, mas vindo do Farinazzo tudo eh possivel. Ele tem uma resistencia incrivel e sabe lidar com as adversidades muito bem.
Sao 19h11min, estou na linha de chegada tentando obter mais informacoes dos corredores. Quem estah liderando a prova ateh agora eh o Zach Gingerich (3o lugar na Badwater 2009). Zach deu muito trabalho para o Farinazzo na ultima Badwater, mas parece que esta eh a prova ideal pra ele ter seu momento de gloria.
Vamos aguardar, pois essa eh uma das provas mais dificeis do mundo e certamente, pra mim, a mais dificil de toda minha vida.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Neve, Livros e 24 horas

Ontem à noite recebi um email do diretor da prova Arrowhead Winter Ultra, Pierre Ostor. Ele havia aceitado minha inscrição e a do Marco Farinazzo, para no dia 01 de fevereiro de 2010 disputarmos os 217km dessa prova brutal, que acontece no clímax do inverno de Minnesota (norte dos EUA).
Um misto de alegria e apreensão tomou conta de mim. Me lembrei da enrascada que o Mário Lacerda (diretor da Brazil135) havia me colocado, indo sem preparo nenhum disputar a Arrowhead em 2007. Me lembrei das horas angustiantes no gelo, do medo da morte, medo de perder os dedos, de congelar as extremidades (todas!) do corpo, enfim.
Mas fiquei feliz pois em 2010 estarei na prova com outros corredores brasileiros. Isso é reconfortante, saber que há outros irmãos na mesma situação em que você se encontra. Dá uma espécie de alento, naquele frio todo, e um pouco de esperança de encontrar ajuda conhecida, num país distante.

E falando em outros irmãos corredores, hoje à noite o Rodolfo Lucena fará o lançamento de seu novo livro: + Corrida, na Livraria Cultura, Av. Paulista, São Paulo. Leia abaixo o convite:


E aproveitando esse multiblog, vai acontecer nos dias 28 e 29 de novembro a 2a edição das 24horas do Rio de Janeiro, prova que acontece numa parceria entre a Corpore/SP e a Marinha (Fuzileiros Navais/RJ). Quem quiser saber mais detalhes ou acompanhar os resultados pelo site, clique aqui. Só pra não frustrar os mais afoitos, as inscrições já se esgotaram.


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Corredores/Caçadores

Todos sabemos que nossos ancestrais caçavam para sobreviver. Embora nosso estilo moderno de vida tenha nos levado para longe das florestas, do mato e do campo, em algumas regiões do mundo, a cultura da caça à moda antiga ainda permanece.

Veja o incrível video sobre a história da caça e do caçador. Um homem da tribo San, do Deserto de Kalahari na África, nos leva há milênios em nossa história, mostrando como a persistência e a paciência fizeram o homem sobreviver nos lugares mais inóspitos da Terra.

E da próxima vez que você ficar com preguiça de fazer aquele seu treino longo, lembre-se desse caçador, que não corre por prazer, medalhas, endorfina ou por simples apelo social.

http://www.youtube.com/watch?v=fUpo_mA5RP8

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Treinao 24 horas em Goiania

Dia 19 de outubro fiz um TREINÃO de 24 horas, correndo num circuito de 1km na Alameda Ricardo Paranhos, em Goiânia (minha cidade). Foi a 2a vez que realizei um treino assim, com a intenção de aproximar a população em geral da ultramaratona, uma vez que a maioria das pessoas só tem contato com o que escrevo, filmo ou fotografo. Decidi também com esse treino, convidar amigos, amantes da corrida e curiosos para verem de perto o que acontece com o corpo, quando levado perto dos seus limites, e permanece por lá durante horas.

Bom, primeiramente foi uma experiência incrível. Correr por 24 horas é sempre um privilégio, ainda mais quando temos uma equipe envolvida com seu resultado, preocupada com sua saúde e totalmente focada na sua integridade física. Só tenho um agradecimento profundo a todos os colaboradores que estiveram no TREINÃO. A equipe de nutricionistas da Dra Aricia Motta (a melhor nutricionista esportiva do Brasil!!!), o preparador físico Romao (Moedor de Carne), a equipe da Academia Atrio (A+ BodyTech!), minha mulher Bianca Badan (que deixou a Laninha, o Luigi e o Luca com minha sogra e foi ajudar durante à noite) e meu irmão Rubens Cerqueira, que ajudou na organização-de-última-hora do evento.

Com toda essa equipe auxiliando, minha obrigação era dar 100% de mim e empurrar minhas pernas durante todo o tempo, percorrendo 160km em 23h35min.

Pra quem gosta dos detalhes, a prova começou às 10h42min de sábado. Comecei os primeiros quilometros fazendos "loops" de 6min/km. Duas horas após o início da prova, o termômetro apitava 41ºC na sombra. Com a umidade por volta dos 80%, eu esperava uma chuva no início da tarde. Ela não veio e com menos de 30km eu já sofria com cãibras nos quadríceps. A Dra Arícia e sua equipe aumentou minha ingestão de sal e potássio e consegui contornar as dores, mas aumentei um pouco meus tempos (7min/km).

No início da noite a chuva veio com tudo. Não dava pra enxergar 2m à minha frente. Mas tive a companhia de 2 amigos, durante quase 2 horas na tempestade. Confesso que fiquei um pouco preocupado com a possibilidade de ter bolhas, mas me precavi usando o BlueSteel, um produto que descobri com amigos corredores da Africa do Sul.

Quando a chuva acabou, quase 4 horas depois, eu já estava sentindo o cansaço e muito sono. Tomei uma cápsula de RocketDyn que possui um pouco de cafeína e logo me senti melhor.

Segui a madrugada com um amigo (Vanderval) que estava comigo no treino desde às 15h00. Andamos a madrugada toda e meu tempo aumentou para 9min/km.

Por volta das 05h00 da manhã senti que era hora de apertar o passo. Voltei a correr e tive o apoio de vários amigos que acordaram de madrugada pra correr comigo (valeu pessoal!!!).

Quando eu havia percorrido 137km senti que daria pra tentar fazer 100 milhas antes das 24hs. Faltavam menos de 3h30 pro final do TREINÃO. Fiz uma massagem rápida e saí com a intenção de só parar quando o desafio terminasse, voltando a fazer 7min/km praticamente até o km 160.

Com o apoio dos amigos, das pessoas que assistiam a prova e dos que estavam correndo comigo, consegui estabelecer minha nova marca (espero que não dure muito tempo!) de 160km.

Foi um ótimo treino para as 24hs do Rio em novembro, bem como uma preparação mental pra Arrowhead 2010. Mal me recuperei do TREINÃO e já começou novamente o ritmo alucinante dos treinos. Mas cada pontada de dor que sinto, cada hora exaustiva de treinamento, cada planilha interminável eu me lembro das 24hs que passei pelo sol, chuva, cansaço e muita camaradagem por parte da comunidade de corredores e amigos. A eles meu muito obrigado. Espero que a determinação e força de vontade que tivemos no TREINÃO sirvam de motivação para as pessoas saírem de sua "zona de conforto" e se aventurarem por quaisquer caminhos que os desafiem.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Brazil 135 Ultra

No dia 23 de janeiro último, participei da maior ultramaratona do Brazil, um evento de importância internacional que atraiu quase 80 atletas, representando 8 países.
Contarei minha experiência da prova de 2009 em alguns dias, mas decidi publicar este relato emocionante do ultra-companheiro Dr Seabra.

- - - - - - - - - - - - - - - -


Prezados amigos.

Só hoje (5 dias após) tenho condições emocionais para relatar, sumariamente, a conquista da minha equipe na BR 135.

Terminamos a prova dentro do tempo (60 h) em 56 horas e 50 minutos, sendo o número 34 na linha de chegada.

A corrida começou há cerca de dois anos, quando resolvi participar das primeiras ultramaratonas de 24 horas. Foram treinos constantes e bastantes intensos, culminando com uma média de 200 km por semana.

Além disto fizemos um reconhecimento no local de grande valia, onde pude contar com o apoio de meu filho Bruno.

Posteriormente, partimos para o planejamento da prova e sua logística.

A Rosi, minha mulher (sem sorte), se incorporou ao projeto e tivemos a felicidade de contar com a concordância dos amigos Patrícia e Raul para se fazerem presentes como “pacers” nesta jornada vitoriosa. Este casal é da minha família, apesar de não estarem no rol de herdeiros da minha "fortuna" material.

Há cerca de um mês do evento monstruoso me aparece um esporão logo após as 24 horas do Rio de Janeiro. Fizemos de tudo, mas a solução teve que ser radical: uma infiltração de corticóide na sola do pé.

Parecia que já poderia apurar os treinos, quando, faltando apenas 13 dias para o início da corrida, uma de minhas éguas, que de tão mansa tem o nome de Maria Mole, acerta um coice na minha coxa direita.

Passado o desespero de achar que não poderia competir, volto aos treinos apenas nos últimos seis dias.

Estávamos prontos. Tensos, com alguns receios, mas certos de que nada nos faria parar pelo caminho e que a velocidade prevista para cada trecho poderia ser cumprida.

Na hora da largada, ao início do Hino Nacional, me vejo cercado por vários atletas-heróis e por minha família. Meus filhos Bruno, Kátia (vinda de Natal) e Bárbara, meu neto Marcelinho, minha dedicada esposa e os incansáveis amigos/irmãos Raul e Patrícia. Descambei a chorar que pensei que ia desmaiar sem fazer um só metro de prova.

Finalmente o momento da largada. Foram 217 km de subidas e descidas gigantescas, picos com vistas lindíssimas, rios, pedras rolando perigosamente abaixo de nossos pés, mato, deliciosos cheiros de mato e de bosta fresca. Calor, vento, frio, chuva, gritos de alegria, gemidos de dor, muito macarrão de todos os molhos, águas, suplementos até não mais aguentar, noites de lua nova, sem um raio, a nos ajudar a enfrentar as trevas, o barulho ensurdecedor do silêncio, a alegria de encontrar um parceiro, os gritos de incentivo das outras equipes, a constante solidariedade.

Uma massagem aqui, um alongamento ali, mais uma subida dos infernos, um mineirinho a dizer que a chegada está uns três quilômetros à frente, o seguinte já aumenta para sete e, horas depois, um outro confirma os sete anteriores. Não vamos chegar nunca. Mais uma subida e nada de ver a cidade. Roubaram a cidade, não pode ser tão longe.... De repente, quando todas as nossas forças já se esvaíram, no alto da quadragésima última montanha, surge algo que parece o Paraíso. É Paraisópolis, a agradável cidade que nos acolhe com seu cheiro de pão de queijo e de broa de milho.

Cruzamos a linha de chegada e o chão sai de nossos pés. Flutuamos a procurar nossos amigos, filhos, a mulher franzina que nos arrastara até ali, nossos adversários (?????), não!!!, nunca!!!!, nossos irmãos de glória.

Vemos os incansáveis voluntários e finalmente o casal que nos proporcionara esta ventura, os simpaticíssimos Mário Lacerda e sua Eliane. Estes, meus amigos, são os verdadeiros heróis. Incansáveis, competentes, incansáveis e competentes, incansáveis e várias vezes competentes.

Dor? Nenhuma. Sentimento apenas de gratidão a tudo e a todos que, numa conjugação de fatores que nunca mais irão se repetir, fizeram com que esta equipe também merecesse a honra de levar para a pequena Quatro Barras a medalha de Prata da prova mais difícil do mundo, a camisa de "Finisher" que irá para uma moldura sem jamais ser usada e um diploma que espero manter em meu escritório, encabeçando meu troféus de hipismo e automobilismo, esportes que pratiquei antes de ficar velho.

Assim, amigos, relato, sumarissimamente, o que foram estes dias maravilhosos.

As fotos que estou editando irão lhes dar uma visão de um atleta nas primeiras 48 horas e de um mulambo determinado a cruzar a chegada nas 12 últimas. Sofremos bastante, mas fiz questão de reunir filhos e netos, em meus 60 anos para lhes dizer, correndo pelas montanhas, que só tem valor o que se conquista com sangue, suor e lágrimas (os dois derradeiros derramados em profusão no Caminho da Fé) e que nós somos aquilo que queremos ser.

Lamento a ausência de meu filho Marcelão e da minha linda e meiga neta Mariana, que não puderam vir, mas já combinamos que na minha comemoração dos 120 anos, nas montanhas da Mantiqueira, eles não faltarão.

Não posso deixar de me referir a algumas pessoas em especial e vou chamá-los apenas amigos: Fernando da Naffar - um gentleman, Mônica Otero - a musa da BR 135, Lacerda - o incansável fisioterapeuta e guru da minha idolatrada Jaqueline Terto e um menina fisioterapeuta que acompanhava o grande atleta Gentil e que me fez chegar correndo em Paraisópolis. Esta pessoa iluminada me ajudou tanto e de forma tão espontânea, que sequer nos deu tempo de saber seu nome (sem dúvida saberei e lhe renderei muitas homenagens).

Por enquanto é só.

Agradeço a todos pela corrente positiva e volto a afirmar que todo o mérito desta conquista se deve unicamente à minha equipe: Bruno, Raul, Rosi e Patrícia e ao “doping” de saber que iria encontrar minhas filhas e meu neto nos últimos quilômetros da estafante jornada.

Um ultrabaraço a todos.

Seabra.



domingo, 18 de janeiro de 2009

Utterli, tudo em um

Acabo de me conectar ao utterli, uma plataforma multiblog, com audio, video e texto, que pode tambem ser acessada via celular. Tudo isso vira uma enorme vantagem quando se estah na rua e acontece algo interessante. Sem nenhum computador por perto, somente com um celular na mao, agora podemos escrever, postar fotos e videos.

Se voce ainda nao conhece, acesse www.utterli.com

Mobile post sent by rodcer using Utterlireply-count Replies.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Chegou 2009 / 2009, at last!

Fim de ano é muito difícil pra mim, como atleta. Principalmente por causa das festividades e
comilanças das celebrações do Natal e Ano Novo. Pra completar, dois dos meus três filhos fazem aniverário no final de ano e aí, já viu ne? Brigadeiro, bolo, enfim, uma festa por dezembro todo.
Mas nem só de farra se vive! E já retomei os treinos finais para a Brazil135, a prova mais pedreira que se tem notícia dentro de território brasileiro. São 217km (ou 135 milhas) cruzando as montanhas da Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais.
Como se não bastasse a distância, a chuva torrencial por causa da época do ano, lama e travessia de rios que inundam de repente, o corredor tem 60 horas pra finalizar a façanha.
Em 2007 foram 11 os guerreiros a finalizar a Brazil135. Em 2008 21. Este ano 63 corredores de 9 países viverão uma fantástica aventura, sobre-humana. Quantos terminarão? Na mais otimista previsão, 40. Na mais pessimista, 20. Dia 23 de janeiro começa a Brazil135, a primeira ultramaratona do ano e também a mais aguardada.

It´s very hard being an athlete at the end of the year, specially for me. Not only because of the Xmas and the Celebrations, but 2 of my 3 kids celebrate birthdays too. Sweets and cakes makes my december a full party. But i cant only celebrate! I already started the Brazil135´s training, the most grueling brazilian ultramarathon. It´s 135 miles crossing the Serra da Mantiqueira´s mountains, southeast of Brazil.
As if the distance was not enough, the pouring rain, mud and flash-floods, the athlete have 60 hours to complete the race. In 2007 only 11 warriors finished. In 2008 21. This year, 63 runners from 9 countries will join an amazing-super-human-adventure. How many will finish? In an optimistic vision, 40. Perhaps 20 for the skepticals. January 23rd will begin the Brazil135, the first and most waited ultramarathon of the year.

domingo, 2 de novembro de 2008

SAHARA RACE 2008 CONQUISTADA!!!!

Ontem, eu e Carlos Dias, fomos os primeiros brasileiros (na categoria masculina) a terminar os 254km da Sahara Race, prova dividida em 6 estagios cruzando a porcao egipcia do maior deserto subtropical do mundo, o Sahara.
Terminei a prova em 49h49min38seg, na 89a colocacao.
Ainda estou no Cairo, de onde saio amanha de madrugada rumo ao Brasil.
Estou realmente muito feliz por ter completado esse desafio, mas confesso que durante alguns estagios da prova, eu simplesmente nao sabia como iria conseguir terminar. Houveram partes dificeis no percurso, mas houveram tambem alguns extremamente exaustivos, onde utilizei todas as minhas forcas pra simplesmente me arrastar.
Correr na areia nao eh para todos. Camelos, talvez, bem como alguns corredores como o sulafricano Ryan Sandes, que ganhou a prova e com quem tive o prazer de ter um papo apos o cafe da manha, de hoje. Em breve publico esta entrevista aqui no blog.
Volto pro Brasil com a medalha no peito e pronto pra o inicio do treinamento para a Brazil135, em janeiro de 2009.